Decisão unânime da 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça
do Maranhão (TJMA) manteve sentença do Juízo da 1ª Vara da Comarca de Paço do
Lumiar, que condenou a ex-prefeita Glorismar Rosa Venâncio, conhecida como Bia
Venâncio, dois ex-secretários do município, o ex-presidente da Comissão
Permanente de Licitação e a empresa Limpel – Limpeza Urbana, por atos de
improbidade administrativa que resultaram em prejuízo ao erário.
A sentença de primeira instância, proferida pela juíza
Jaqueline Reis Caracas, mantida pelo órgão colegiado do TJMA, constatou a
inobservância da Lei de Licitações, com a inclusão indevida de tributos na
composição do preço cobrado pela licitante vencedora, fato que resultou no
sobrepreço dos serviços prestados.
Entendeu, ainda, que houve restrição do caráter
competitivo, a partir de inclusão de itens indevidos na convocação do certame e
carência de dados capazes de possibilitar a avaliação precisa dos custos
unitários dos serviços em decorrência de projeto básico defeituoso.
A ex-prefeita; os ex-secretários Pedro Magalhães de Sousa
Filho (Infraestrutura), Francisco Morevi Rosa Ribeiro (Orçamento e Gestão); o
ex-presidente da Comissão de Licitação, Luiz Carlos Teixeira Freitas, e a
empresa Limpel foram condenados, cada um, a ressarcir o dano causado ao erário,
no valor de R$ 654.127,20, correspondente a um quinto do valor do contrato
firmado, a ser corrigido pelo INPC e acrescido de juros de 1% ao mês, a partir
de outubro de 2009, data do contrato, a ser revertido para o município. Multa
civil no mesmo valor foi aplicada a todos.
Os réus também tiveram seus direitos políticos suspensos
pelo prazo de seis anos e foram proibidos de contratar com o Poder Público por
cinco anos.
Na apelação conjunta ajuizada no TJMA, o ex-secretário
Pedro de Sousa Filho disse que assinou o projeto básico, mas que não possui
conhecimentos especializados para elaboração de trabalhos de licitação. Afirmou
que, apesar da complexidade do trabalho, foi considerado sem falhas na análise
de advogados, técnicos em licitação, engenheiros e até promotores de justiça
com experiência na área.
A ex-prefeita Bia Venâncio alegou ser inviável a
imputação de ato de improbidade a prefeitos, por estarem sujeitos à punição por
crime de responsabilidade; falou da necessidade de comprovação de dolo; disse
que não ordenou a contratação da Limpel sem licitação e com valores além do
aceitável; e afirmou não ter participado de atos de formação do processo, para
os quais disse não ter competência.
A Limpel apontou a nulidade da sentença por cerceamento
de defesa. Afirmou não estar comprovado o ato de improbidade e nem a presença
do dolo. Observou que a previsão do valor relativo aos tributos como custos dos
serviços contratados não é ilícita, porque, desde que foram criados, sempre
fizeram parte da composição do BDI (Benefícios e Despesas Indiretas).
O ex-presidente da Comissão de Licitação, Luiz Carlos
Freitas, também alegou cerceamento de defesa e inexistência de dolo. Disse que
requereu intimação do município para que se manifestasse se houve ou não o
pagamento relacionado à Carta Convite nº 043/2009, o que não foi atendido.
O ex-secretário Francisco Ribeiro alegou argumentos
preliminares semelhantes para pedir a nulidade e destacou que não praticou
qualquer ato visando prejuízo ao erário.
VOTO – O desembargador Ricardo Duailibe (relator),
preliminarmente, afastou a tese de inaplicabilidade da Lei de Improbidade
Administrativa aos agentes políticos, citando entendimento do Superior Tribunal
de Justiça (STJ). Também refutou o suposto cerceamento de defesa, considerando
que os apelantes não demonstraram que deixaram de produzir provas capazes de
influir no julgamento. Acrescentou que o robusto acervo de provas revela-se
capaz de formar convicção acerca dos atos de improbidade apontados.
No mérito, o relator verificou que relatório do Tribunal
de Contas do Estado (TCE-MA) constatou irregularidades no processo licitatório,
os mesmos citados na sentença de primeira instância.
Destacou que, por se tratar de ato que ocasionou lesão ao
erário, norma da Lei de Improbidade Administrativa prevê, de forma excepcional,
que o agente público pode ser responsabilizado, ainda que não tenha agido com
dolo, bastando, para tanto, a presença de culpa que, segundo entendimento do
STJ, deve ser grave.
O desembargador ressaltou que o então secretário Pedro
Sousa Filho elaborou projeto básico defeituoso; que a prefeita à época, Bia
Venâncio, deveria ter agido com máxima diligência e que é inegável que possuía
pleno conhecimento da licitação; que a responsabilidade da Limpel é evidente,
na medida em que incluiu na composição dos preços tributos que, por sua
natureza, são personalíssimos e incidem diretamente sobre a empresa – citou
precedentes; que o ex-presidente da Comissão de Licitação, Luiz Carlos Freitas,
deixou de assegurar a higidez do processo licitatório; e que o então secretário
de Orçamento e Gestão, Francisco Ribeiro, foi o responsável por homologar,
adjudicar e contratar a empresa.
Para o relator, todos os envolvidos agiram com dolo ou,
ao menos, culpa grave. Em razão disso, negou provimento ao recurso dos
apelantes, de acordo com parecer do Ministério Público.
Os desembargadores José de Ribamar Castro e Raimundo
Barros concordaram com o relator.
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